A ideia da maioria das pessoas, que
começam sua senda literária, apresentando seu primeiro original a uma editora,
é de que, depois de aprovado o livro, não terá que fazer mais nada a não ser
desfrutar da fama que virá, isso sem contar as várias exigências que imagina
poder impor a editora, que resolveu investir nele. Ledo engano, pois o buraco é
mais embaixo!
Há aproximadamente dez ou quinze
anos, um novo autor só conseguia publicar seu original com muita sorte ou,
principalmente, se pagasse por uma edição independente, o que não era barato. Hoje,
não.
Com um investimento relativamente
baixo, e pagamento facilitado, milhares de autores conseguem tirar seus textos
do computador, do diário ou da gaveta, e levá-los diretamente para a estante,
quer através de uma publicação independente ou através de uma editora. Porém, apesar
do caminho para efetivamente publicar seu trabalho ter se tornado mais fácil, o
trabalho não termina depois da noite de autógrafo, muito pelo contrario. É
depois das “festas de lançamento” que a coisa começa a pegar.
A publicação em si não fará com que
leitores se interessem pelo seu livro, como num passe de mágica. Aliás, não
existe mágica no Mercado Editorial e uma Editora também não é uma instituição
beneficente, nem uma clinica de psicologia para tratar suas emoções. Ela é uma
empresa que vendo um produto – livro, impresso ou digital – e tem como objetivo
primário, auferir LUCRO. Então, se seu livro não “vender”, dificilmente ela irá
investir num novo projeto. Aqui cabe um adendo. Se você teve um original
aprovado para publicação, e a editora irá investir dinheiro nisso, não esqueça
de que ela está analisando o seu livro como uma possibilidade de ter lucro, e
não porque ele é uma “obra prima”. Sim, eu sei que é uma coisa dura de ouvir,
mas é melhor aceitar a verdade, do que viver iludido.
Os novos autores, mesmo diante das
facilidades que já mencionei, não podem se descuidar do seu aperfeiçoamento
constante. Costumeiramente nos deparamos quem candidatos a fama literária que,
quando, na hora de publicar, não possuem um blog, não escrevem para nenhum
veículo e sequer participaram de alguma coletânea. Nunca publicaram um texto,
nem no jornalzinho de sua cidade, possuem um português sofrível, e, num belo
dia, resolvem sentar-se numa mesa e digitam freneticamente um livro de 250
páginas, muitas vezes sem uma pesquisa mínima sobre o assunto de que trata a
narrativa. São pessoas que nunca escreveram profissionalmente. E o livro, que
será fruto desse trabalho, obviamente, ainda não possuirá leitores interessados
– familiares e amigos não contam – até porque, com exceção dos amigos e
familiares já mencionados, ninguém saberá da existência do autor e da obra.
Mesmo assim, o referido escritor tem
certeza de que o trabalho de angariar leitores pertence exclusivamente à
editora, e não a ele. Jura que seu livro só não vende por que a editora não faz
sua parte. Ela não divulga seu nome, sua obra, não orienta, não o incentiva de
trata melhor os autores mais famosos e atuantes de seu catálogo. Traduzindo,
ele é a vitima e o coitadinho da história.
Geralmente o novo autor publica por
uma pequena editora, mas age como se estivesse lançando seu livro por um Grupo
Editorial, como a Record ou a
Globo. No entanto, editoras de renome continuam com suas portas fechadas
para autores iniciantes e publicam somente quem já conquistou sua fatia – e
seus leitores – no mercado editorial, pois o retorno é quase certo. E é porque
investem pesado em determinado escritor, que as grandes editoras precisam da
garantia de que seu investimento lhe trará retorno em curto prazo. E para que
isso aconteça, o autor em questão necessita ter seu público leitor
estabelecido.
Lembra-se do que disse antes?
Editora não é Instituição de caridade, é uma empresa que vive de resultados, ou
seja, LUCRO. Assim sendo, a maioria dos escritores iniciantes irá publicar
através de casas editoriais pequenas, sob demanda, que editam dezenas de livros
por mês – praticamente todos com tiragens muito pequenas, inclusive, na maioria
das vezes, desembolsando certa quantia para isso. Ai, autor iniciante, que tem
seu original aprovado por uma dessas editoras, solicita 30 exemplares, como se
estivesse solicitando 10 mil, e quer que a editora o coloque no Programa do
Jô, na capa do caderno de cultura do Estadão e distribua sua
obra em todas as livrarias do país. Contudo, ele próprio não consegue
comercializar os 30 livros que pediu, o que me leva a conclusão de que nem sua
família, amigos e colegas de trabalho compraram sua obra. E se o autor não tem
30 pessoas, do seu próprio circulo de amigos e parentes, interessadas em seu
livro, como a editora vai encontrar cinco mil dispostas a pagar para ler uma
obra de um escritor que nunca ouviram falar? Isso sem levarmos em conta a
grande concorrência que se criou. Lembre-se, se ficou mais fácil para você
publicar, também ficou mais fácil para todo mundo publicar.
E só ficou fácil por que a maioria
das pequenas editoras dificilmente realiza um trabalho exclusivo de edição e
divulgação para cada lançamento. Não por que não querem, mas porque, se assim
fizerem, não conseguirão sobreviver por mais de 90 dias, pois, se a tiragem for
pequena, o lucro da editora também será igualmente pequena. Tiragens maiores
significam investimentos maiores, e, consequentemente, riscos maiores, que
também poderão levar a editora a fechar suas portas rapidamente, se não der um
retorno satisfatório.
É por essa razão que as editoras
menores se obrigam a publicar muitos autores, visando minimizar os riscos e
auferir um lucro razoável para manter-se no mercado. Elas trabalham baseadas em
quantidade, e não necessariamente em qualidade, embora se este ultimo não for
tratado com cuidado, também pode levar a editora a perder seus leitores, e,
consequentemente, reduzir seus lucros, passando até a correr o risco de fechar
suas portas. Tanto é que algumas chegam a lançar mais de 700 livros por ano,
cada um com tiragem variando entre 30 e 50 exemplares.
É ai que surge o questionamento. Como
uma editora, que lança 700 autores por ano, vai conseguir, efetivamente,
divulgar um por um de seus lançamentos? Impossível!
Uma editora é uma empresa como outra
qualquer, que possui despesas, salários, aluguel, planilhas, cronogramas, impostos
e contas para pagar. Mas o autor iniciante, e às vezes alguns experientes, não querem
entender isso. Geralmente por não querer abrir mão de suas fantasias
literárias. E, apesar de publicar por uma editora, que lança quase 60 autores
por mês, solicita 10 exemplares de sua obra, exige mil regalias: quer
divulgação, preço baixo, ilustração na capa e no miolo do livro, distribuição
em todas as livrarias do país. Quer participar e dar autógrafos em bienais, em
programas de rádio e TV e receber muita bajulação, mesmo não conhecendo meia
dúzia de pessoas interessadas em pagar para ler o seu livro.
Um outro erro comum, que os novos
autores cometem, é acreditar que escritores, hoje renomados, somente são
famosos por que publicam por uma grande editora. Isso não é verdade. A generosa
maioria de autores renomados começou como todo mundo; anônima e lentamente,
trabalhando muito, conquistando leitores e seu espaço embaixo do sol, devagar e
sempre.
André Vianco, escritor de Literatura
Fantástica, conhecido por todo país, e um dos ícones nacionais nesse tipo de
literatura, lançou seu primeiro livro – Os
Sete – de forma independente, utilizando o FGTS, que recebeu depois de ser
demitido, e saiu vendendo os 1mil exemplares, até adquirir certa notoriedade na
cidade onde residia e ser contratado para publicar pela Novo século.
Eduardo Sporh, outro escritor de
Literatura Fantástica, também publicou seu livro de forma independente,
passando a vendê-lo através de do Blog Jovem
Nerd. Tal trabalho, e a quantidade de exemplares vendidos chamou a atenção
da Verus – divisão da Record para
Literatura Fantástica, tornando-se referencia nesse tipo de literatura.
Daniel Galera, escritor premiado,
publicado fora do país, e um dos nomes mais relevantes da nova literatura
brasileira, lançou seu primeiro livro, Dentes Guardados, em 2001,
através de uma editora, que ele próprio fundou para se autopublicar, pois, nessa
época, não existiam tantas pequenas editoras de portas abertas.
Carol Bensimon lançou seu primeiro
livro, Pó de Parede, através da pequena e desconhecida Não Editora, e hoje é autora da Companhia
das Letras. Raphael Montes, autor da mesma Companhia das Letras, publicou pela
primeira vez, em 2009, em uma coletânea da Editora Multifoco chamada Assassinos
S/A.
E
temos aqueles que não são conhecidos nacionalmente, mas são ícones em seu gênero
de escrita, tais como os autores da coletânea Amor Vampiro, publicada
pela Giz Editorial, em 2008, onde figuraram nomes como o já mencionado
André Vianco, as damas do terror nacional Giulia Moon e Martha Argel, Nelson
Magrini, a autoridade nacional em vampiros Adriano Siqueira, bem como o versátil
J. Modesto.
Todos eles não enviaram seus
originais para um grande selo, nem foram aprovados e se tornaram escritores
reconhecidos da noite para o dia. Todos realizaram um trabalho sério,
profissional, constante e comprometido, durante muito tempo, dia após dia, até
finalmente conquistarem seu espaço no mercado editorial brasileiro e no
interesse dos leitores.
O mais importante, se resolver
publicar através de uma pequena editora, não aja como se fosse o autor Best Seller da literatura nacional,
exigindo mundos e fundos. Arregace as mangas e trabalhe na divulgação e venda
de seus livros, pois se você não acredita nele e não trabalha em prol da sua obra,
não pode exigir que os outros o façam sem dar nada em troca. Pensar que está
trabalhando “de graça” para a editora é pensar pequeno. Na verdade você está
trabalhando para você. Para a sua marca, o seu nome e pavimentando sua estrada
para o sucesso.
Boa
Sorte!
L. H. Hoffmann